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Para quem corre em busca de performance, sentir dores musculares acaba virando algo normal. O problema é que, na tentativa de aliviar o incômodo e seguir treinando, muita gente escolhe tomar analgésico ou anti-inflamatório antes ou até durante a atividade.
“O uso indiscriminado desses medicamentos pode ter efeitos colaterais que incluem úlcera gástrica, retenção de líquidos, elevação da pressão arterial e desenvolvimento (ou agravamento) de doenças cardiovasculares”, avisa a médica Rebeka Paulo Santos, reumatologista e mestre em ciências da saúde aplicadas à reumatologia pela UNIFESP. Ela comenta que, de acordo com estudos, atletas de todas as idades e níveis de condicionamento usam quatro vezes mais analgésicos e anti-inflamatórios do que a população em geral, normalmente antes do treino para aliviar ou evitar dores.
E não é só isso. Tomar analgésico ou anti-inflamatório de forma inadequada antes ou durante o exercício pode, ainda, predispor o atleta a lesões. “Isso acontece porque, com o corpo aquecido, o indivíduo acaba não percebendo o desconforto e continua treinando. Assim, é comum que o problema evolua para tendinites ou lesões articulares, afinal ele ignorou o sintoma de que havia algo errado”, fala o médico fisiatra Marcus Yu Bin Pai, especialista em dor e acupuntura.
Combinações perigosas
Treinos intensos provocam grande desgaste físico e perda de líquidos e sais minerais, o que leva a um estado de desidratação. Em algumas situações pode ocorrer a ativação de mecanismos naturais compensatórios do organismo que vão gerar, por exemplo, reabsorção de sódio e água pelos rins na tentativa de restabelecer a concentração de líquidos no corpo.
Nesse momento, pode haver sobrecarga dos rins, que são protegidos para compensar a produção de substâncias vasodilatadoras chamadas de prostaglandinas, que garantem o funcionamento renal adequado. É aí que os anti-inflamatórios (como ácido acetilsalicílico e ibuprofeno) podem acabar sendo nocivos: como são substâncias capazes de bloquear o efeito vasodilatador das prostaglandinas, levam a diminuição dos vasos sanguíneos renais (e do resto do corpo) e redução na capacidade de filtração dos rins.
A diminuição do fluxo sanguíneo corporal somado à desidratação sobrecarrega os rins, que passam a correr risco de entrar em colapso. O perigo pode ser fatal — já houve casos de ultramaratonistas que tomaram ibuprofeno em competições e não resistiram. É comum, inclusive, que a organização de algumas as provas alertem para esse risco.
“Vários estudos mostram que o uso de ibuprofeno antes da corrida não tem ação de reduzir a inflamação muscular; pelo contrário, pode até aumentar”, fala Rebeka. “Além disso, há pesquisas que demonstram que corredores que utilizaram analgésicos têm até quatro vezes mais chances de apresentar cólicas durante uma corrida. E esse tipo de medicamento também é ligado ao aumento de pressão arterial”, completa.
A médica esclarece que a dor é um alarme do corpo para um problema e que a combinação errada de substâncias com alimentos, bebidas e até suplementos esportivos pode potencializar ou até anulados a ação do remédio. Mesmo atletas jovens podem sofrer lesões renais graves por causa do abuso de medicamentos.
O remédio pode interagir com bebidas isotônicas ou pílula de sal?
Sim. Isotônicos são ricos em sódio, potássio, cálcio, fósforo e carboidratos e, quando consumidos em excesso ou associados a anti-inflamatórios, podem sobrecarregar os rins. Com os uso repetido, aumenta-se o perigo de elevação anormal da pressão arterial e do desenvolvimento (ou agravamento) de doenças crônicas como hipertensão e diabetes.
As cápsulas de sal têm efeito semelhante de sobrecarga renal quando administradas junto com remédios para aliviar a dor porque são compostas geralmente por sódio, potássio, magnésio, cloro e fósforo.
Por que sentimos dor pós-treino?
É normal sentir dor e rigidez muscular depois de participar de uma sessão de atividade física intensa, o que ocorre devido a microtraumas repetitivos nas fibras musculares, principalmente quando há um estímulo novo para o corpo. “Pode afetar qualquer pessoa, independentemente do nível de condicionamento físico. É normal, portanto, sentir dor nos primeiros dias depois de começar a treinar, mudar a rotina de exercícios ou quando se aumenta a carga e volume do treino”, explica Marcus Yu Bin Pai.
A dor pode aparecer um ou dois dias após o treino e durar de três a cinco dias. Geralmente, tem intensidade leve ou moderada, e pode ser sentida em um músculo localizado ou em vários grupos, dependendo do exercício realizado. É importante ficar atento para não confundir esse desconforto com uma dor aguda, que pode surgir durante uma atividade por lesão ligamentar ou distensão muscular e pede a interrupção imediata do exercício.
Em caso de dor recorrente, é preciso reavaliar o treino e a carga, além de reservar tempo adequado para descanso. A postura também pode ser a origem da dor em muitos casos — então, é preciso corrigi-la antes que desencadeie lesão.
Fonte: SuaCorrida